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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Atividade física e memória





ATIVIDADE FÍSICA E MEMÓRIA

O caráter sedentário da vida moderna representa uma ameaça a nossa à nossa contínua sobrevivência. Nossos ancestrais caçadores-coletores como animais irracionais sobreviviam a desafiadora empreitada da vida usando a inteligência e a destreza física para encontrar e armazenar a comida. A relação entre alimento, atividade física e aprendizado está conectada aos circuitos cerebrais. Hoje há evidências de dados da população com elevadas taxas de obesidade, diabetes do tipo 2, doença perigosa e evitável provocada pela alimentação inadequado e pela falta de atividade. O que ainda ninguém reconhece é que a inatividade está matando também nossos cérebros – atrofiando-os fisicamente. O que os neurocientistas descobriram somente nos últimos anos mostra um quadro empolgante sobre a relação biológica entre o corpo, o cérebro e a mente, com as possíveis relações também com nossas emoções (veja nos tópicos sobre depressão, por exemplo).

Os neurocientistas apenas começaram a estudar o impacto do exercício físico no interior das células cerebrais – nos próprios genes. O que ocorre é que a movimentação de nossos músculos produz proteínas que viajam pela corrente sanguínea até o cérebro, onde desempenham papéis essenciais nos mecanismos mais complexos dos processos de pensamento. Eles carregam nomes como fator de crescimento insulina-símile 1 (IGF-1) e fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), e fornecem uma nova visão sobre mente-corpo.

Mas vocês poderiam estar me perguntando: - Porque eu deveria me preocupar aqui no curso de obstetrícia, com a maneira com que meu cérebro funciona, com a relação com a atividade física e com a memória? Que tal uma breve resposta só pra elucidar a discussão: - Porque é ele que comanda o espetáculo. “Nesse exato momento, a parte frontal do seu cérebro está emitindo sinais sobre o que você está lendo, e o que você absorve disso tem muito a ver com crescimento para unir os neurônios. O exercício físico tem um efeito comprovado e radical sobre esses ingredientes essenciais. Ele prepara o palco e quando você se senta para aprender algo de novo, este estímulo fortalece as conexões relevantes; com a prática, o circuito ganha definição, como se você estivesse abrindo uma trilha pela floresta.”

Esta questão descrita acima se estende a outras questões importantes relacionadas à qualidade de vida e saúde:

- Para lidar com a ansiedade você precisa aprender a deixar as trilhas desgastadas se recuperando enquanto você descobre outras vias alternativas. No exercício o que acontece em teoria, é que aprendemos que a elevação da frequência cardíaca e da respiração, assim como acontece quando estamos ansiosos, não é sempre um sinal físico de ataque de ansiedade, e aprendemos a não supor automaticamente que essa excitação seja prejudicial. O mesmo acontece quando a gestante durante o pré-natal vivencia algum tipo de atividade física que lhe proporcione essa experiência de “aceleração”, podendo ajudá-la inclusive no parto a aprender a lidar com as respostas da ansiedade com mais naturalidade ou, se posso dizer, com mais consciência. Durante o exercício uma substância chamada ANP é secretada pelos músculos do coração, atravessando a barreira hematoencefálica( também é produzido diretamente no cérebro). Estudos em animais e em humanos mostram um efeito calmante do ANP, podendo ser dessa forma um elo importante entre o exercício e a ansiedade (obs.: os níveis de ANP triplicam na gestação);

- Para lidar com o estresse, lembrando que biologicamente para nosso organismo o simples ato de se levantar de uma cadeira e, por exemplo, o dia da prova de FBO, são situações de estresse, em níveis distintos, mas o que nos interessa aqui é que ambos os acontecimentos ativam partes das mesmas trilhas no corpo e no cérebro. No estresse crônico ficamos presos no mesmo padrão, normalmente marcado pelo pessimismo, medo e recolhimento. O enfrentamento ativo o tira desta situação. O exercício é um estresse que ajuda os neurônios a se desenvolverem, tornando-os mais flexíveis, exatamente como acontece com os músculos. O exercício não apenas interrompem as consequências negativas do estresse crônico em cada nível, desde o microcelular até o psicológico: ele também as reverte. Os mecanismos que o exercício muda o modo como pensamos e sentimos é muito mais eficiente do que doces, remédios e o vinho. Quando nos sentimos menos estressados depois de dançar loucamente ou de sair caminhando o mais rápido que pudermos, é justificado;

- Para lidar com o medo, já que o registro desse medo é para sempre, podemos essencialmente abafa-los criando uma nova memória e reforçando-a, a esse fato os cientistas chamam de reatribuição. Para ultrapassá-lo o exercício ajuda a lidar com a ansiedade agindo tanto no corpo quanto na mente, através dos seguintes passos:
1. Ele age como distração;
2. Ele reduz a tensão muscular;
3. Ele constrói recursos cerebrais;
4. Ele ensina um resultado diferente;
5. Ele redireciona seus circuitos;
6. Ele aperfeiçoa a resiliência, o termo psicológico para isso é o autocontrole ( você percebe que é capaz de fazer algo por você mesmo);
7. Ele o liberta.

O uso de medicamento oferece segurança imediata, e o exercício chega às bases da ansiedade.

- Para a depressão: “O exercício aeróbico tem um impacto positivo sobre toda a gama de sintomas da depressão, independentemente de eles virem individualmente, na forma de um episódio moderado, ou conspirarem para formar um transtorno. “De modo geral, penso que a depressão seja uma erosão de conexões – em sua vida e também em suas células”. O exercício restabelece essas conexões.” O cérebro tem a função de transmitir informações e se reconectar constantemente, nos ajudando a adaptar e a sobreviver. O bloqueio da depressão é um bloqueio da aprendizagem no nível celular, o cérebro fica preso no ciclo negativo de autodesprezo e também perde a flexibilidade para conseguir sair do buraco. No início da década de 1990 foi descoberto que o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) protege os neurônios contra o cortisol em áreas que controlam o humor, inclusive o hipocampo. Enquanto os níveis elevados de cortisol podem reduzir o BDNF, os antidepressivos e especialmente os exercícios, fazem exatamente o oposto. Mas ainda precisamos de tempo para que o exercício seja aceito como tratamento médico por ser considerado um tratamento muito holístico em meio a tantas tecnologias duras desenvolvidas, por mais que já tenha sido comprovado desde a ação de micromoléculas ( BDNF,IGF-1,VEGF e o FGF-2, que fornecem o material e a supervisão da construção de novas conexões e neurônios) até a avaliação maciça de dezenas de milhares de pessoas ao longo dos anos.

- Para o déficit de atenção (TDAH, déficit de atenção com hiperatividade) ou, o cérebro com TDAH tem um desafio monumental de iniciar uma atividade e quando se senta para realizá-la, resolve limpar a mesa. “Paradoxalmente a saída para quem tem TDAH envolve o estabelecimento de uma estrutura extremamente rígida. As artes marciais são exemplos de atividades para quem tem déficit de atenção por trabalhar o equilíbrio, a regulação do tempo, a sequenciação, a avaliação das consequências, as trocas, a correção dos erros, os ajustamentos motores finos, a inibição e é claro o intenso foco e a concentração.” Os exercícios regulares diminuem o TDAH elevando os valores de dopamina e norepinefrina estimulando o crescimento de novos receptores em certas áreas cerebrais.

- Para o vício e o TDAH é no centro de recompensa que é encontrada a explicação do porque que em ambos a motivação, o autocontrole e a memória minam. Hoje os cientistas sabem que uma vez que a recompensa tenha a atenção do cérebro, o córtex pré- frontal instrui o hipocampo a lembrar do cenário e a sensação em detalhes muito claros e daí para diante essa memória acionada dispara o comportamento reflexo que pode ser tanto para dependência de drogas, como para jogos e alimentos. A dopamina produzida durante o exercício se conecta a receptores amenizando a fissura, e com algum tempo de prática a atividade produzirá mais receptores D2 e restaurará o equilíbrio no sistema de recompensa. A sugestão então é para quem tem alguma tendência a comportamento de vício, desenvolva algum hábito consistente de exercício.
-Para alterações hormonais o exercício auxilia abrandando os efeitos das ondas dos hormônios em alteração restaura o equilíbrio entre forças opositoras da atividade do cérebro durante um tempo tumultuoso para algumas mulheres; também regula o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), o qual melhora nossa capacidade de enfrentar o estresse. Na gravidez o exercício reduz a náusea, a fadiga, as dores musculares e o acúmulo de gordura, contribuindo para evitar a diabetes gestacional. É bom saber que o exercício ajuda independente da mãe ser ativa antes da gestação. E tem também o bebê: um estudo em 2006 com ratas grávidas que se exercitavam por dez minutos por dia resultava em mais BNDF, maior neurogênese e melhor memória de curto prazo nos filhotes.

- No envelhecimento só para citar um dos fatores dentre uma lista vital que o exercício melhora, escolhi o fator “promoção da neuroplasticidade”, porque aborda questões neurodegenerativas naturais com a idade, as quais podem ser prevenidas com o exercício aeróbico. Este fortalece as conexões entre as células cerebrais, criando sinapses e estimulando as células-tronco recém-nascidas a se dividirem e se transformarem em neurônios funcionais no hipocampo. Fatores neurotróficos necessários para a neuroplasticidade e neurogênese diminuem naturalmente com a idade e através da movimentação do corpo o cérebro é estimulado a crescer aumentando a oferta desses fatores (VEGF, FGF-2 e IGF-1). Todas essas mudanças nas estruturas cerebrais melhoram a capacidade de aprender e se lembrar, de executar processos de pensamento mais elevados e administrar as emoções. Quanto mais fortes as conexões mais seu cérebro estará pronto para enfrentar qualquer dano que venha a ocorrer.

Um ponto essencial para os ganhos que o exercício pode proporcionar é a escolha de uma atividade PRAZEROSA!!. Existem dados que revelam essa importância. E não se chateie se não gostar de fazer exercícios, essa questão também pode ter explicações genéticas. Porém com estas informações contidas nesse singelo trabalho, há razões suficientes para você conseguir se dedicar, pois é através desse início que o próprio exercício estará abrindo novas vias neurais ou talvez renovando outras vias enferrujadas pela falta de uso, e logo logo, são necessárias apenas algumas semanas, esse hábito estará se solidificando. O exercício é medicina preventiva tanto quanto antídoto. Se desafie, faça exercícios, eles são uma boa maneira de desafiar a si mesmo e o seu cérebro.

Este estudo foi iniciado com a iniciativa de trazer informações sobre atividade física e memória, como conteúdo para avaliação da disciplina Educação em Saúde. No decorrer do preparo deste material percebi que havia mais conteúdo do que eu imaginava, e devido à qualidade desse conteúdo resolvi trazer informações que também abordam, juntamente com a construção da ajuda da atividade física para a aprendizagem e para a memória, informações referentes à saúde no decorrer de nossas vidas.

Referência: RATEY, J.J. e HAGERMAN, E. Corpo Ativo Mente Desperta. A nova ciência do exercício físico e do cérebro. Ed. Objetiva, 2012.

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